Os "politicos" somos nós


Uma simplificação cada vez mais encontrada nestes dias afirma que "os políticos", dos quais, como se sabe, "nenhum presta", são na verdade uma reflexo da sociedade que os elegeu. Como toda simplificação operada pela sabedoria claudicante do senso comum, não se pode dizer que seja inteiramente falsa.

Não resta dúvida de que cada sociedade tem o Congresso e o governo que merece. Quando os próprios políticos passam a recorrer a esse argumento cínico para tentar tornar menos escandalosa sua reputação, é porque há algo de errado no ar, de suspeito mesmo. Muito mais vergonhoso do que negar a existência da indústria da seca é admitir que ela existe sim, mas sugerir que os responsáveis por ela são os sertanejos que ainda se submetem ao clientelismo, elegendo os coronéis que gozam as benesses do DNOCS
( Departamento Nacional de Obras Contra as Secas).

Não é a sociedade brasileira toda que está refletida na chamada classe política. Aqui também, como para o resto, a maioria de miseráveis e desclassificados conta pouco, ou nada. Embora o sufrágio universal lhes dê a ilusão de que participam do jogo político esta participação se limita a uma escolha abstrata entre opções definidas em outro mundo, do qual estão por princípio excluídos.

Em uma palavra, é a "elite" brasileira que se encontra muito bem representada no Legislativo.
Não que isso traga algum alivio. Demonizar um grupo social. Fazer dele um bode expiatório dos pecados nacionais não conduz a lugar algum. Bater no próprio peito pode ser tão cínico quanto apontar o dedo para as vítimas.

As coisas só vão começar a mudar, de fato, quando mais pessoas se convencerem de que o problema do Brasil não é de culpa - que todos a temos - mas de responsabilidade. Para romper o imenso círculo vicioso de injustiça que se instaurou no país, o VOTO e a DENÚNCIA podem ser muito úteis, mas é difícil de acreditar que ele seja abolido se não for quebrada a corrente ainda maior de pequenas iniquidades e delitos que povoam o cotidiano.

Um ótimo começo seria, por exemplo, parar de exigir jornadas de trabalho escravagistas das empregadas domésticas, de avançar no sinal vermelho ou de furar filas.
Por essas PEQUENAS maracutaias, ninguém tem o direito de pôr a culpa nos "políticos".

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