Haiti - contextualizando


Faz tempo fiz uma atividade relacionado ao que estou postando, esqueci de colocar no blog, estou fazendo isso "now", é para ler e refletir.

Brasil, mídia e Haiti

Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação - 24/01/2010



— Desde a antiguidade, tragédias provocam, além de horror e temor, fascínio. Tempestades são divindades. Acidentes são observados com avidez. Um corpo lançado da janela na calçada entretém a multidão. A tsunami mata 200 mil pessoas mas o avanço do mar é mesmerizante. O visual de guerra é objeto de culto.

A afirmação é de Eugênio Bucci, jornalista, escritor, teórico da ética na comunicação e professor de jornalismo na ECA (Escola de Comunicação e Artes) da USP, em entrevista ao jornal O Globo, 24/01/2010. A entrevista é de Arnaldo Bloch.



Eis a entrevista.

Você vê isto também nas imagens que vêm do Haiti?

Eu vejo isso em todo lugar, em toda foto na banca, na internet, na TV. Até mesmo o deputado com dinheiro na meia se converte em vulcão mesmerizante (superpalavra, essa). O perverso, o mórbido, o familiar que é ao mesmo tempo estranho e repulsivo (ominoso), aparece a toda hora, e não é isso que diferencia uma cobertura da outra: neste aspecto, todas as coberturas são iguais, ainda que a mais recente sempre nos assombre com a impressão de que exagerou mais na dose.

Que exagero, ainda que reiterativo dessa tendência humana, há na atual cobertura?

A quantidade. O terremoto do Haiti foi um terremoto na paginação dos jornais e telejornais. Não condeno nem critico essa overdose de imagens chocantes. As dezenas de milhares de mortos, o horror das cenas, justificam-na. Há o recurso espetacular em todas as coberturas, e uma de suas características estruturais é essa, a dose sempre mais forte. Por isso a sensação de não saber onde iremos parar. Mas no caso da cobertura do Haiti, além do espetáculo, há um vetor solidário que prevalece. Não solidário no sentido de caridoso, mas de vibrar junto, transmitindo ao público o que é a carga do drama humano vivido pelas pessoas que lá estão. Pense bem: a solidariedade, desta vez, atravessa as fronteiras nacionais e acolhe os haitianos como brasileiros. Em parte porque há brasileiros que trabalham lá, militares morreram, Zilda Arns morreu, um pouco do Brasil foi ceifado pela tragédia. Porém, muito mais que isso, há uma inclusão do Haiti no imaginário pátrio. Caetano foi profético: o Haiti é mesmo aqui. E a solidariedade que sentimos em relação aos haitianos não é diferente da que sentimos em relação às vítimas de tragédias brasileiras. Há sensacionalismo, mas há profissionalismo, bravura, e não falamos de bravura em missão de guerra, mas em missão de paz. Em tanto sofrimento, há um dado de beleza. E é essa a matriz daquilo que você falou: o retrato da desgraça nos agride e inebria, mas estamos também inebriados pela possibilidade de que algo pode ser feito em prol dos haitianos. É sintomático que, aqui e ali, estamos discutindo política, história, sobre as soluções necessárias para que o país ultrapasse o seu estado atual de vulnerabilidade, de desproteção, de desamparo total. E isso é um dado positivo.

Trata-se de um tipo de convergência entre entretenimento e utilidade? O show, sim, mas politicamente correto, unindo os "melhores" dos mundos?

Não, de modo algum. Show politicamente correto, pelo amor de Deus, isso é cerimônia de entrega do Oscar! É verdade que muito telejornal tenta chegar lá, mas não é disso que falo aqui. Nem de convergência utilitarista, ou do entretenimento utilitário. Em resumo, essas tintas mais escalafobéticas do que chamam de espetacularização, embora eu também não goste de palavras terminadas em “zação”, comparecem a tudo: aos outdoors, aos anúncios de rádio, de TV, às manchetes de jornal. A cobertura do Haiti está dentro disso. Faz parte da mesma gramática, do mesmo modelo.

Surpreendente seria se ela se diferenciasse. Ela segue a lógica geral. Daí que, dentro da lógica geral, ela se diferencia não por ser mais ou menos espetacular, mas por apontar uma direção que põe em relevo os direitos fundamentais, a solidariedade, a justiça social. É como se o Haiti ficasse no Brasil. Ao mesmo tempo, é como se, aos poucos, a imprensa se abrisse à evidência de que pertencemos a uma comunidade cujos contornos são redondos como o planeta, e não recortados como as fronteiras políticas entre as nações.

(...)

Será que, enfim, Zweig estava certo e o Brasil é o país do futuro?

Essa é uma pergunta muito maliciosa, traiçoeira, perigosa. Mas, mesmo correndo todos os riscos de dizer isso, acho que o Brasil é, sim, um país que terá um papel central no futuro. E que já é, hoje, um dos lugares mais interessantes do mundo. Eu gosto muito disso aqui. Fora isto, queria dizer uma coisa mais, para fustigar esse pessoal que se refestela achando que é artífice do espetáculo, quando, na verdade, não passa de subproduto descartável do espetáculo. O apetite dessa tal “mídia” por uma catástrofe é insaciável. E não estamos (ainda) mudando a matriz. Essa “mídia” é mais ou menos como a caveira da velha canção de Alvarenga e Ranchinho. Ela sempre vai trocar o coveiro romântico por um defunto fresco. E sempre haverá defuntos frescos dando sopa. Os coveiros vão despencando pelo acostamento.


Opinião 1

Uma onda de solidariedade se espraia pelo mundo. Organismos internacionais e muitos governos anunciaram que vão doar centenas de milhões de dólares para socorrer os haitianos aflitos. Meus botões ficam arrepiados. Eles sabem que os oportunistas sempre procuram as corredeiras de dinheiro. No Haiti não será diferente. ONGs e empresas especializadas em abocanhar contratos de ajuda e reconstrução chegarão na grana antes que a grana chegue às verdadeiras vítimas.

Mas nada disto parece interessar aos jornais, especialmente aos que são televisados. Estes, como sempre, preferem se concentrar no show de imagens da terra devastada. Exploram escancaradamente a dor e as lágrimas das vítimas sem pagar um centavo de direitos de imagem às mesmas. Tenho vontade de rir quando vejo os telejornais se derreterem de elogios à solidariedade internacional.

TRAGÉDIA + CINISMO + OPORTUNISMO = JORNALISMO - http://www.jornaldedebates.com.br/debate/quais-os-verdadeiros-valores-sociedade/artigo/trag-dia-cinismo-oportunismo-jornalismo/13858

Opinião 2


Pois bem, o que aconteceu no Haiti é terrível, mas é hora de ajudar.
Sim, os fotojornalistas contratados, profissionais de jornais, revistas, sites e redes de televisão fazem o que tem que fazer, isto é, mostram o horror da situação e assim provocam uma reação positiva, estimulando doações e atitudes proativas por parte de governos, corporações e pessoas.

Haiti - Fotografar ou ajudar?

http://fotografeumaideia.com.br/site/index.php?option=com_content&task=view&id=1013&Itemid=140


Minha Opinião
Por Evandro Berserker

Nunca vi uma reportagem que falasse sobre direitos fundamentais, a solidariedade e a justiça social no Haiti, somente reportagens que pegam caronas com as catastrofes que ocorrem em países como o Haiti, onde há grande miseria e fome, atualmente parece que virou "modinha" falar dos mortos no Haiti, claro devemos informar a população, mas devemos também informar sobre as coisas que acontecem todos os dias no Haiti: desigualdade social, e os direitos fundamentais sendo violados. Devemos prestar mais atenção em jornais que só querem saber de vender e não trazer informação de qualidade.

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