O canalha

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O canalha é a base da nacionalidade. Ele é a pasta  essencial de tudo que rola na política. Ele faz a história paralítica do Brasil , ele tem a grandeza da vista curta, o encanto dos interesses mesquinhos, a sabedoria das toupeiras, dos porcos e dos roedores.

 Como todo governo, Lula precisou de alianças, mas , com a ética "revolucionária " do PT, exagerou na dose. Assim nasceu o recente canalha de fronte alta , o canalha aliado, homenageado como homem "incomum".

Antes os canalhas se escondiam pelos cantos...Hoje, desfilam orgulhosos nos congressos e ministérios.

Assim, Lula nos ensinou muito sobre o Brasil. Ele fez surgir um esplendoroso universo de fatos, de gastos , de caros, nos últimos anos. Que riqueza para a nossa consciência política! Que prodigiosa fartura de novidades sórdidas, tão fecunda quanto as belezas de nossas matas, varzeas e flores.. Toda semana temos um novo escândalo...Tivemos , claro, a superprodução do mensalão , depois o show de meias e cuecas em Brasília, temos agora os 10 picaretas do Paraná, sem contar os impunes e os esquecidos...Meu Deus, são tantos...sanguessugas .vampiros, aloprados, tantos...

Agora, já conhecemos a secular engrenagem latrinária que funciona embaixo dos esgotos, dos encanamentos, das ilusões de cientistas políticos , já vemos os intestinos da política, os súbitos aumento de patrimônio, as declarações de rendas dos corruptos, os carrões, os iates, as piscinas em forma de $, as surubas lobistas nos Lago Sul , já vemos as suas caras de furões, de cangurus, de tamanduás, vemos a sujidade, a porquidão, a esterqueira, viajando diante dos olhos nacionais. Ouvimos os clamores de "calúnias, injúrias, e difamações", as indenizações pretendidas, e a euforia guerreira de advogados chicaneiros, as promessas a jesus para proteger os salteadores, vemos as mandigas, os despachos, as galinhas mortas nas encruzilhadas, vemos os desesperos das esposas traídas, corneadas e gestantes, denunciando, por vingança, os maridos ladrões, vemos as relações sexuais rareando em Brasília e a súbita angústia  nos bares políticos , o uísque caindo mal, as barrigas murmurantes, as diarréias , as prisões de ventre, as flatulências fétidas, os vômitos de medo da polícia, tudo compondo o grande painel barroco da suja politicagem.

A "canalhogia" é uma ciência nova. Sem estudá-la não se entende o Brasil de hoje. Ela não é desvio: é a  norma. O canalha tem  400 anos: avô ladrão, bisavô negreiro e tataravô degradado.

O canalha criou o sistema brasileiro que, em troca, recria-o persistentemente: suas jogadas, seus meneios foram construindo um emaranhado de instituições que dependem da mentira. Quando o Jefferson e o Durval Barbosa abriram a boca foi um choque de realidade. Quando a verdade aparece sempre há uma catástrofe. Aí, jorra um show de mentiras ofendidas, um chorrilho de "nãos" e de "negos" : "Minha honra", "aleivosias contra mim", "Deus é testemunha..." ladrões sob o manto do candor, da pudicícica. A mentira é necessária para manter as instituições funcionando.

Estamos cercados de "pichelingues" por todos os lados - ( resolvi usar sinônimos de "canalha" para não repetir o grasnar desta feia palavra). Onde bate uma CPI, lá estão os quadrilheiros nos contemplando do fundo de arquivos , de dentro de cumbucas, se reproduzindo como bactérias.

Há um orgulho perverso no cara de pau, no "mofatrão". . No imaginário brasileiro  colonial, ele tem algo de aventureiro heróico. O larápio conhece o delicioso "frisson" saber-se olhado nos restaurantes e bordéis. Homens e mulheres veem-no com gula: " Olha, lá vai o maravilhoso vigarista sem vergonha!..."- sussurram fascinados e fascinadas por seu cinismo sorridente.

O esbulhador não se culpa; sempre tem uma razão que o absolve e justifica: uma velha vingança, um antigo castigo, uma humilhação infantil. O "chupa-sangue"  tem o orgulho de suportar a culpa, anestesiá-la - suprema inveja dos neuróticos. Ele pode roubar verbas de cancerosos e chegar em casa feliz, ao ver os filhos assistindo desenho na TV. Muitos são bons pais - pensam no futuro da família.

Gatunos e bifadores fascinam também executivos honestos porque, por mais que eles se esforcem, competentes , dedicados, sempre estarão carentes de um patrão ingrato. O trambiqueiro, não: ele pega e come, ele não espera recompensas, só ele se premia. Ele tem o infinito prazer do plano de ataque, o orgasmo na falcatrua, a delícia adrenalina na apropriação indébita.

O canalha não é o malandro - não confundir. O malandro é romântico, boa praça, o canalha é minimalista , seco. O malandro tem bom coração. O  canalha não sofre.  O canalha tem infarte; o honesto tem úlcera.

Exterminá-los é impossível. Os sacripantas, os velhacos, renascerão com outros nomes, inventando novas formas de roubar o país. Os "marraxos" são infinitos; temos de destruir suas covas e currais. Enquanto houver 20 mil cargos de confiança no país, haverá rapinantes e embusteiros; enquanto houver estatais controladas por sindicatos, fundo de pensões exposto ao roubo, haverá alfaneques e flibusteiros, enquanto houver subsídios a fundo perdido tipo Sudan ou Sudene, haverá chupistas.

E, por ironia, os ladravazes são nosso perigo e esperança. Os pelego-bolchevistas que lutam para ficar no poder, os consideram meros degraus para a "revolução", um mal necessário para basear o retrocesso estatizante , o "chavismo cordial" que querem trazer por aí. Um perigo.

Por outro lado, é tanta a sordidez dos aliados da base, que sua "malemolência" malandra vai minar  qualquer tentativa de controle excessivo de "comissários so povo" sobre a sociedade , nesse subperonismo que querem criar se chegarem ao poder de novo. A que ponto chegamos:  os canalhas são uma ridícula esperança esperança democrática.


                           Arnaldo Jabour

 

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